Cenas De Um Paraíso Artificial
Andou nua.
Procurou-se em mundos diversos.
Olhos fechados. Corpo aberto.
Estrelas e olhos confundiam-se
e era dia. A cara era lua
e a lua corria.
Também búfalos corriam
pelo chão áspero de ervas pisadas, sanguíneas.
A terra era vermelha
e fendida.
As raízes, sem corpo,
encontravam-se entre água e massa corrida.
O fogo queimava
dentro e fora.
Os corpos
tocavam-se,
explodiam-se
em um ritmo
controverso
e
abstrato.
O estranho ritmo
do mito dionísico.
O extremo circuíto animal,
demente, do correr,
selvagemente, para
a noite não concretizou-se
no esqueleto de cristal.
Lagos congelados
eram camas de pardais
e rinocerontes que se marcavam de batom.
Talento foi acender o cigarro
sem pegar fogo.
A combustão era interna
e inebriava. Dilatava as veias
para um correr mais liberto.
Dominava os céus
e as pedram rolavam
para o leito do rio
ou da janela. Diversos cometas.
Era a obra de arte espacial
dilacerando a obra de arte primata.
Deserto de areia e calcário
que suporta os pés
calosos e os sonhos.
Sonhos do espírito,
não da matéria.
Mulher e mulher
aninhadas mutualmente
no mútuo, uno,
corpo estigmatizado.
Psicodélicas. Delirantes.
Dilaceração do espaço ocupado pela amante.
O couro provoca
e somente o beijo seduz.
Não.
Não quero.
Não quero mais ver
o que emana
de sua doce carne jovem,
irresistível carne podre.