CARTA A UMA POETISA: SOBRE MEU DESERTO

Sabendo-se que
as coisas não se conhecem
como as nomeamos
ou imaginamos,

e que a ilusão
existencial é imanente ao singular
surgimento de nossa
espécime;

ainda assim
– e eis meu deserto – constituo,
com minhas abnormais senciências,
inaugurações de toda ordem
e a todo momento.

Neste ponto,
penso ter-me criado conceitos
– também tão espuriamente abstratos –
que mudaram-me e me moldaram
ao niilismo:

“O surgimento da abnormidade”,
“a grande barreira” e o “inexorável apagamento”,
em presenças concomitantes,
mas alheias entre si;

e tentar esclarecer
melhor sobre tudo isso de mim,
demandar-nos-ia extensíssimo tempo
de prosas filosóficas
e metafísicas,

em simplesmente mais
e mais excêntricas e subjetivas criações,
sempre à margem do erro do qual surgimos
e ao qual nos andamos.

Não obstante
– e em tempo –, tornei-me tão árido
em minhas angústias e em meus escorrimentos juncos,
que acabei por fabricar-me também
um forte refúgio,

qual seja o de crer
que qualquer sublimidade mais sincera entre os seres,
ou qualquer pureza mais afiada
entre seus limites,

só podem ser realmente
conquistadas, com uma ausência constante
de seus egos, em silente admiração
à distância.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 30/11/2015
Código do texto: T5465872
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