A NEGRA COR DE NOSSOS DIA
… eis-me aqui,
no fim da jornada:
antes um homem honrado,
agora cão, um puto, um demônio
em suas próprias sombras
e misérias reveladas;
eis-te aí,
antes uma bela purista abrilhantada,
agora um lugar-comum, um andar
em fantasias, como princesa
desorientada;
mas confesso
que tenho ainda pelo menos
uma dúvida,querida: por que raios ou diabos
não podíamos
[em nome daquele
estranho amor que por tantas
e tantas e tantas vezes
nos regozijávamos
quando passeávamos
pelas ruas, pelas avenidas,
e pelas sombras daqueles postes
mal iluminados;
quando passeávamos
pelos céus, e pelos mares, pelos quintais
e pelas camas daqueles vívidos
pássaos pintados;
quando nos afogávamos
em ilusões, em fantasias, em esperanças vazias,
em febres concupiscentes
e em porras
ciliares]
pelo menos
fingir que não era tão sujo
assim o rio que juntos
atravessávamos?