Hilda
Ama-me. Ama-me mesmo se eu te diga
que minhas palavras
não são feitas de flores
nem de gestos ilícitos.
São frias. Tinta.
De folhas. Saudade, Hilda.
Tua face geratriz
causa-me mel e bromélias abertas na boca.
És beleza eterna. Incansável. Imutável.
Indizível como a face de Deus nos mares.
Presença leve. Toque fantasma
na pele. O cardo. Sussurro.
Lágrima de sal em meus olhos despreparados.
Ama-me. Que não sou feito de carícias
Nem de pedras. Mas olhares.
E te procuro. No balanço. Na loucura.
Procuro sem nunca tocar-te.
Como posso amar-te
se somente te sinto
quando estás como conhecida,
peixe ferido?
Sem mitologias. Pulo o muro.
Pulo o tempo. A vida que é nada mais
que uma montanha que me adentra à força.
O mal-estar contente das horas
procurando-te. Tecendo os fios de prata
do tempo alusivo.
Perverso.
E te digo também
que me alimento dos teus textos.
Como de mariscos. Camarões. Caranguejos.
E neles descubro a plenitude
de uma tarde em sonho primaveril.
Tetricamente faço-me marinho.
Armado o peito em profusão respira o linho
de suas roupas que recrio em desenhos.
Estamos unidos. Atravesso a ponte desconhecida
onde te encontrei e não te vi.
(É que mesmo a casca dura
atravessado canto à obra polida.
Verdade encontrada na mentira).
Legado místico. Mulher acima dos céus.
Pó de ouro. Coluna Coríntia. Arca.
Debruço-me sem fim.
Ambiguidade do não estar e permanecer.
Mas tu és terra, bem sei. És maça-verde
que mastigo e me digo:
Tu estás.
E se te sinto
em completo gozo e linha.
Reta. Porém curvilínea
se me afasto um pouco.
Se te sinto é porque te vejo.
Não é desejo: Afirmação do pejo
fascinante da procura. Da luta perdida.
Eterna busca que encontro um pouco cada dia.