Noturno de outubro

Já vai dormir o dia.

A poesia se cala na alma.

As minhas falas estão cansadas.

Buscam almofadas.

O presente não tem porta giratória,

tem que se ir em frente,

pra um dia contar uma história.

A noite não me pertence.

E nada é novo no mundo,

a não ser essa sede

de algum absurdo

como uma paz que venha do alto

se espalhando como águas

por areias, montanhas, rochas.

Um maremoto que salva.

Aqui estou,

janelas abertas na noite densa

a alma desabrigada dos ventos

esses ventos sem endereço

que talvez levem pra algum horizonte

uns sonhos que desconheço.