Campos Elíseos
Em minha ditosa insula,
o circo vinha junto ao crepúsculo da primavera,
rostos hiperbóreos surgiam famélicos,
pelas luzes boreais da Velha Era.
Mãe Madrugada insuflava a macela,
em nossas artérias de areia.
A Esfinge dormia mansa,
apaixonada,
ela sonhava com os quadris cor- vingança da Sereia.
Os acrobatas estelares*,
por sob a combustão cor mar,
iam reinando.
Os viços,
em sua revolta de pena,
iam marchando.
Gotas escarlatas em meus lábios,
pensava eu ser a garoa de Viena
mas era apenas o céu sangrando.
Juno fugia errantemente,
Vênus cobria-se,
Minerva em coma,
Júpiter ao chão,
em olhos dementes :
-''Minha Roma''-
Os palhaços esqueciam as piadas,
as fantasias denotavam,
os ingressos do circo encalhavam,
constelações ora choravam,
ora imprecavam.
Os etíopes desolados abraçavam-se.
Em fúria assombrosa,
a Esfinge despertou,
Lonas de seda deitam-se ao chão.
Um léu podre e vencido preenchem o inorgânico vão,
o olor dos gerânios falecidos invade os ares,
antes caramelados,
hoje de menta,
meus Campos Elíseos antes virgens e imaculados,
hoje estepe sangrenta.
*Poetas falecidos.
Vocabulário:
Ditosa : feliz.
Ínsula : ilha.
Famélicos : famintos.
Macela : erva brasileira com suposto efeito de calmante natural.
Viços : nome genérico dado ao arbusto considerado sagrado na Europa-Cristã.
Imprecar : desejar mal, amaldiçoar.