Campos Elíseos

Em minha ditosa insula,

o circo vinha junto ao crepúsculo da primavera,

rostos hiperbóreos surgiam famélicos,

pelas luzes boreais da Velha Era.

Mãe Madrugada insuflava a macela,

em nossas artérias de areia.

A Esfinge dormia mansa,

apaixonada,

ela sonhava com os quadris cor- vingança da Sereia.

Os acrobatas estelares*,

por sob a combustão cor mar,

iam reinando.

Os viços,

em sua revolta de pena,

iam marchando.

Gotas escarlatas em meus lábios,

pensava eu ser a garoa de Viena

mas era apenas o céu sangrando.

Juno fugia errantemente,

Vênus cobria-se,

Minerva em coma,

Júpiter ao chão,

em olhos dementes :

-''Minha Roma''-

Os palhaços esqueciam as piadas,

as fantasias denotavam,

os ingressos do circo encalhavam,

constelações ora choravam,

ora imprecavam.

Os etíopes desolados abraçavam-se.

Em fúria assombrosa,

a Esfinge despertou,

Lonas de seda deitam-se ao chão.

Um léu podre e vencido preenchem o inorgânico vão,

o olor dos gerânios falecidos invade os ares,

antes caramelados,

hoje de menta,

meus Campos Elíseos antes virgens e imaculados,

hoje estepe sangrenta.

*Poetas falecidos.

Vocabulário:

Ditosa : feliz.

Ínsula : ilha.

Famélicos : famintos.

Macela : erva brasileira com suposto efeito de calmante natural.

Viços : nome genérico dado ao arbusto considerado sagrado na Europa-Cristã.

Imprecar : desejar mal, amaldiçoar.

Rebeca Maron
Enviado por Rebeca Maron em 25/09/2015
Código do texto: T5394473
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