A PROCISSÃO

Há muito tempo quando eu era menino

Alguém me mandou fazer uma oração

Se funcionava ou não

Ainda funciona se ajoelhar e rezar?

Nesses tempos de uma nova inquisição

Ainda funciona se ajoelhar e rezar?

Posso ficar na capela

Não tenho onde ficar

Quem sabe eu durmo perto das velas

Só para me esquentar

Preciso tanto de um abrigo

Não sei se vou resistir

Estou com tanta fome e frio

Estou tão sozinho

Preciso tanto de um amigo

Santa não usa minissaia acima do joelho

Nem é estatua de barro

Não acredito em ame o próximo como a si mesmo

Pois isso está tão fora de moda

Nesses dias de insatisfação e medo

O que eu posso fazer agora?

Há varias formas de resolver problemas

Uma é sair por ai sem saber onde ir

Ser bandido entre arvores e montanhas

A outra é dormir num sono sem fim

E outra é amar a vizinha até o marido chegar...

Igrejas

Catacumbas

Cervejas

Prostitutas nuas

Deusas gregas

Ruas lotadas

Igrejas vazias

Pessoas suadas

Chagas e feridas

Os morros são verdejantes

Arvores cheias de vida

Foram cortadas por alguns viajantes

Que passaram por aqui naquele dia

E depois quer julgar o que é pecado

A vida toda suamos

Para no fim dormirmos numa tumba superficial

Acreditando numa vida nova ao longo dos anos

Mas vamos ficar ali apodrecendo

Enquanto fazem julgamentos sem fundamentos

Se guiam por um conto de fadas

Colocam no coração dos outros apenas medo

E mais nada

Vejam, a procissão já começou

Enquanto isso ouça a oração

O pessoal quer na verdade diversão

Assim como o padre que não chegou

Está com um garoto no confessionário

Serpente dum lado

Pombas do outro

Não sei para onde ir

Uma mulher nua colhe maçã enquanto o marido fica calado

Conhece-se assim o que é pecado

E o que é pecado

É fazer o que quer

Não seguir as ordens de um ditador

Que se disfarça de criador

Um homem careca grita coisas sem sentido:

"Cristãos filhos da puta

Assim como o deus de vocês

A mãe dele foi estuprada pelos guardas

E vocês não querem nem saber

E dizem ser uma divindade uma pessoa qualquer"

O silencio toma conta de tudo ao redor

De repente ecoa um grito

"BLASFÊMIA"

Quero viver num mundo

Onde se possa fazer o que se quer

Sem medo do que pode acontecer

Apenas quero viver sem medo

Fazer o que eu quero

Sem ser julgado por pessoas que não sabem o que falam...

Se não for assim vou flagelar as minhas costas

Enquanto atropelam crianças e animais

Sei que alguns vão rir

E outros vão chorar...

Mauricio Rocha
Enviado por Mauricio Rocha em 20/09/2015
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