MINHA BOCA
Sofro pela palavra perdida
pelo verso que não deu
pelo fim do mundo
pela minha cara
Sofro pelo verso avexado
pela nuvem que se desloca
pela antítese do obsoleto
na imensidão do absurdo
Sofro no mundo
feito a mordida de língua
como a maçã infectada
pela natureza morta
Eu sofro
decididamente sofro
pela paz que habita
o coração desabitado
Eu sofro
pela falta de sentido
que a objetividade decreta
quedando em linha reta
Mas sou feliz
pela dispersão dos acasos
pela fé que alimenta
a válvula do pecado
Há tanta felicidade no verso
que fazer falta ao sentido
nem é sofrimento