O vinho e a taça
Vinho:
Fostes a união mais perfeita
Um colo confortável a qual me assento
Transparência divina de vasto recanto
Escorrego em sua borda ao infinito acalanto
Rubro de se deleitar em meu forte liquor
Me balanço e danço nesse falso amor
Um rodeio ébrio que me faz sorrir
Nesse abraço frouxo que insiste em deixar-me ir
Sem cenas de ciúmes e nem cara feia
Uma boca qualquer me traga, me chama
Você de boca aberta nem se quer reclama
Queria apenas que pegasse em minha mão
Me guardasse em seu leito ou me pusesse ao chão
Proteger-me do sussurro de qualquer outra boca
Fazer desse amor uma recíproca troca
Taça:
Um caco me sinto quando vás embora
Um balde de lixo, ou uma caçamba
O pescoço apertado e o nó na garganta
Do choro que ainda repousa em meu fim
Lembrança do nosso encontro perfeito
Vazio e manchado estufo o peito
Lamentando a perda, não durmo direito
Me atiro ao chão e faço em pedaços
Lavado em prantos, em meio aos pratos
A vontade que sinto não cabe a relatos
Tristonho ressoo um triste bolero
Definho do vinho que já tive esmero