O vinho e a taça

Vinho:

Fostes a união mais perfeita

Um colo confortável a qual me assento

Transparência divina de vasto recanto

Escorrego em sua borda ao infinito acalanto

Rubro de se deleitar em meu forte liquor

Me balanço e danço nesse falso amor

Um rodeio ébrio que me faz sorrir

Nesse abraço frouxo que insiste em deixar-me ir

Sem cenas de ciúmes e nem cara feia

Uma boca qualquer me traga, me chama

Você de boca aberta nem se quer reclama

Queria apenas que pegasse em minha mão

Me guardasse em seu leito ou me pusesse ao chão

Proteger-me do sussurro de qualquer outra boca

Fazer desse amor uma recíproca troca

Taça:

Um caco me sinto quando vás embora

Um balde de lixo, ou uma caçamba

O pescoço apertado e o nó na garganta

Do choro que ainda repousa em meu fim

Lembrança do nosso encontro perfeito

Vazio e manchado estufo o peito

Lamentando a perda, não durmo direito

Me atiro ao chão e faço em pedaços

Lavado em prantos, em meio aos pratos

A vontade que sinto não cabe a relatos

Tristonho ressoo um triste bolero

Definho do vinho que já tive esmero

William Devillart
Enviado por William Devillart em 14/09/2015
Reeditado em 14/09/2015
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