FRIO

Apenas esses olhos de memória

passeiam lá fora.

Esses dias frios trazem a distância

entre o corpo e o espírito.

Dirijo-me a essas coisas pequeninas

que me trazem os sons dos sinos:

o olhar do cão, o passo do pássaro molhado,

a flor na relva ainda viva,

apesar do vento, do frio e das chuvas.

A borboleta na parede, aguardando o início

de um vôo ao desconhecido.

E escrevo gelando,mas com o rosto voltado

para a grande luz da palavra

que procura o céu e suas estrelas

como um viajante perdido na noite.

Resta-me o eco das coisas resguardadas

pelos olhos da memória

para fugir dessa fronteira com o inverno

onde até os violinos emudecem.