Andarilho
Na estação, de repente
'dou de cara'
com um verso,
encharcado
chateado
caminhando cabisbaixo
pelo caminho inverso
Sobre dormentes
há membros
repousantes,
gestos gastos
calças puídas
pele insensível
nada do que foi antes
inquilinos da vida
da sobrevida
ao relento
Sob fortes chuvas
lacrimejando
mendingando
gotas de ternura
no campo distante
frio cortante
atormenta o coração
do andarilho
das horas
infindas
Nos corredores
faltam assentos
alguém tropeça
e se despede
de repente
outro grita
o trem agita
sento-me,e
me permito
colocar os acentos
sinto calor
desaperto o cinto
pela vidraça
vejo uma sombra
que me assombra
respiro fundo
preciso agir
pela janela
aceno na direção
do sol
que não surgiu
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Ísis Dumont