PASSEATA

Índios e sem terras caminham no milharal

Cá estou eu dormindo em casa

Enquanto os índios e os sem terras queimam minhas roupas no varal

Um jovem levou um tiro numa greve geral

Por querer bancar o tal

O menino órfão se machucou

Enquanto seus pais jazem numa tumba perto de seus ferimentos

Seu sangue se juntou aos restos mortais

De seus admiráveis pais

O menino chorou

E foi até o rio para se afogar

Só para ficar encontrar seus pais...

As carroças com condutores de capuzes

Vagam pela chuva de outono

Numa tarde boa para tirar um sono

Vagam a procura de almoço

O bispo dormiu com cinco empregadas

Enquanto na rua caia uma tempestade

Eles fizeram votos de amor

Não sentem, há pecado carnal por aqui?

Eu sei que sou um pecador

Podia eu ser um marceneiro judeu de trinta anos

Que do nada virou um filosofo um professor

Mas cá estou eu sentado

Abismado...

Mauricio Rocha
Enviado por Mauricio Rocha em 01/09/2015
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