Expurgo

Quiseste saber perto de mim, de minhas distâncias,

as que me pertenciam e nada sabiam de ti,

do teu amor, de tua dor, de meu mundo.

Olhei sem ver a tua máscara em minha face;

meu Alterego sorriu,

cingindo a memória de cima abaixo,

como se fotografasse um elefante sob uma formiga.

E quando a memória não mais tiver carne,

nem o sumo de nossas melhores lembranças,

seremos apenas dois velhos amantes

sem estradas, sem amores, sem mais nada.

Mesmo assim vou viver, piedosamente calado

em qualquer riso tristonho que se sustentar vivo,

ao nosso lado, com ou sem voz, afastados, mas lado a lado,

porque viver sem amor é a morte mais viva de um passado,

a lembrança mais infértil de qualquer recado

que não pode te enviar meu coração.