CRÔNICA MARCIANA, QUASE POESIA *
A cidade corre devastada sonhando que sonha acordada
e o homem perigoso nas ruas devastadas da cidade devastada
sonha acordado buscando desesperadamente saltar o abismo.
Ou me engano, a vida replica e a arte subverte
mas o que protege Estocolmo é redoma de vidro.
Rio, Beirute, Gaza, Fortaleza tanto faz como se fez
qualquer lugar é mais seguro que lugar algum.
Nas ruas devastadas da cidade devastada
sonha acordado o homem que sonha não correr perigo.
No sonho destes desacordados a ilha suspensa resplandece,
e draga um por um, sonâmbulos de Fahrenheit 451.
Borges sentiu a alma cortada de terror e medo, habitada de solidão
Hoje, mais uma nova Nova Jerusalém rodopia equatorial de frente para o mar
e dá as costas para o continente enquanto neva paz miniatura
e estilhaços sobre Copacabana.
Antônio B.
* CRÔNICAS MARCIANAS é um livro de contos de ficção científica do escritor estadunidense Ray Bradbury cujo tema recorrente é a colonização de Marte por humanos com problemas e eventualmente vindos de uma Terra sob a iminência de ser devastada. Borges fez o prefácio da edição espanhola de 1950.