MANTO
(Sócrates Di Lima)
Tenho que a chuva,
É o manto da saudade,
Veste o pensamento como luva,
O resto do corpo, ela invade.
E, ela cai lá fora com certa suavidade,
Aqui dentro, entra como se uma brisa,
Acaricia a face sem maldade,
Como uma mão sem jeito que improvisa.
E neste ritual quase imperceptível,
Faz surgir a nostalgia...
Lembranças do que já era quase esquecível,
Como quem se esquece da poesia.
E assim esse manto molhado,
Umedecido como uma face tristonha,
Que ao longe o bem amado,
Sozinho e triste, sonha....
Um manto de inverno...
Como flâmula ao vento e ao frio,
Como folha solta de um caderno,
Arrancado de um livro e jogado ao rio.
Um manto de terno carinho,
Mas, que não deveria ser assim...
Porque a saudade é sinal de se estar sozinho,
Perdido nas lembranças de mim.
Lá fora, aquém-desse-manto,
Há um frio inesperado e morteiro,
Congela cada canto do meu canto,
Sem se importar que estou solteiro.
E assim está o meu dia....
Alheio a realidade do meu discreto pranto,
Não de lágrimas mas, de derramada poesia,
Envolta neste meu agasalhado manto.