Amortizar
importa que eu morra agora
com a língua de fogo das palavras
em candelabros de velório
lumes solitários
chamando sombras cabisbaixas
às paredes já desgastadas de solidão
que não sintam falta das cidades
fantasmas dos meus olhos
nem dos dedos árticos da consciência
elidindo cores escamosas
das mutações dos vãos
que obliteram sentidos
pra instaurar ilusões.
importa que meu túmulo
permaneça de boca aberta
surpreendido com o passar do tempo
sem dolências sobre meu cadáver
estirado numa erma rua
de um poema com a lixarada
já a meio voo roubando asas do vento
largando-me num ângulo de esquecimento
importa que o poema deixe a rua poeirenta
sempre de boca aberta
expectando desavisado viajante
se deparando
com meu falecimento indigente
importa que eu morra agora
em surdina e abruptamente
com um monte de palavras
carcomendo a caducidade
da mente