A noite

A noite oculta os sonhos,

o verbo que ondula na garganta,

a mão que enferruja,

o pássaro que não canta.

A noite examina

as portas secretas das lembranças

e peregrina, à aventura se lança.

Compõe sua própria canção

atordoada, sonolenta.

Borda florais no coração,

remenda os fios das rendas.

A noite se refugia

na corda bamba do sono.

Dissolvidas as nuvens da alma,

busca seu dono.

À última prece houve um suspiro

antes do adormecer.

Quem sabe um anjo em desvio

por ali não passe

para n'alma amanhecer?