Lamento
Inspiração não me deu seus seios...
Raquíticos versos rastejam sem viço...
Ofego entre as letras, gemo à ilusão
de compor essa ode... Tão desencantada...
Meu olhar rasteja, implorando o milagre...
Mas punhal que corta a minha jugular
é a lucidez desse dia avaro...
Onde o seu sorriso, cascata cantante
que me saciava, fartava em delícias,
onde a tua mão, que me desenhava,
abrandava anseios, repleta em carícias?
Vou ao céu e volto, desmaio em abismo...
Rito desse cismo que aponta a loucura
rouba luz à face, destila seu fel
mais terror despeja, à minha desdita.
Fome e sede tenho, preciso de ti...
Minha fonte és, de inefável gozo...
E se não estás, clamo pela morte...
Verso que me sobre, se torna em veneno...
Quero seja ameno, meu triste final...
Calo a minha boca, paraliso o tempo,
que se desvelado, espelha o infernal
estado precário, onde me definho
sem achar a cura para o grande mal
que é te amar sem crer, ter-te em doce aninho...