DELÍRIO
Chama que arrefece.
Carinho que maltrata.
Afago que fere e sangra.
Oração que blasfema.
Fé que destrói.
Os milagres palpáveis são contestados.
A promessa quebrada.
A certeza em dúvida.
A ambição e a vaidade invejando a simplicidade.
O desprezo abraçando a amizade.
A morte carregando a vida.
A paciência apressando a pressa.
A falsidade sendo sincera.
A mentira desmascarando a verdade.
O defeito criticando a perfeição.
A flor ferindo o espinho.
A noite clareando o dia.
O ódio ajuizando o amor.
A tristeza consolando a alegria.
As folhas direcionando o vento.
A canoa sacudindo o mar.
A ira dos deuses não é o bastante.
Sofre o inocente, sorri o culpado.
Rasteja o são, anda o aleijado.
Castigo para o bom, perdão para o malvado.
Enquanto Deus vigia, o diabo finge dormir.
Somos nós sem credo na mente?
Ofertamos um dia ao Pai e seis o fazemos sangrar?
A pequena semente pode arborescer frondosa...
ou servir de petisco para o pássaro faminto.
Resta-nos o conforto da salvação eterna.
O sofrimento atenuado pelo bálsamo da mão de Deus.
O prazer de compartilhar os momentos sublimes com quem se ama.
- Texto extraído do meu Livro: O Útero de Deus
(o suplício de Jeron em sua segunda morte)
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