leviatã

agora?

relax!

tranca a porta do teu horizonte

destroça os caminhos feitos com pontes de papel

esquece o mel da montanha

que o fel da estrada te aguarda

lambe o asfalto com vapor de chuva quente

mas, isso relaxado...

– já pensou se isso é possível?

relax...

poucas porradas nas tuas caixas de som

vai lá, liga, e já é

radiohead? pode ser

e pode ser muito bom

só que a primeira música no cd é de manu chao:

clandestino

hummm... belle and sebastian agora

as músicas estão me ajudando

a esquecer o que eu teria que escrever

e isso me parece bom

relax...

o inferno não é tão ruim

e o céu também não seria muito bom

fique na atmosfera

sinta a atmosfera

fique na terra

sinta a terra

agora toca life on mars, david bowie

não entendo o que ele canta

só algumas poucas palavras não adiantam

mas o sei, é muito bonito

é assim que gozamos o mistério do mundo

e gozar sem entender

na verdade, é sentir

não precisa interpretar

não precisa decifrar:

– você é um detetive noir de filme ou livro

ou um homem real com asas?

contudo, tente decifrar quando assim preferir

relax...

sei que minto, sei que mentes

mas sei que te surpreendes

com pensar naquilo que pensou não pensar

quando pensa que não teria surpresas

é surpreendida pensando nele, sabe aqui

relax...

são várias do radiohead no cd

é pra chapar mesmo

mas é na minha paz

e é na minha

e esses momentos me têm sido poucos

mas não vou pensar nisso agora

é jogar água na fogueira

acabando com o calor

acabando com o lual

sou biográfico

um auto-biógrafo em tempo real

em tempo integral

e tudo que me chega agora

é de uma eletricidade que quase posso ver

de tanto que a sinto

mas sei que está tudo bem

ele vai ver se arranja um cigarro normal

não sei se essa música tão linda, nature boy

pertenceria à discoteca do lado negro...

ele não é canabista

pelo menos ele acha que não

mas há quem olhe pra estrada de tijolos amarelos

e a veja negra

é uma questão de olhar

é uma questão de aprender a olhar

a questão é: que estrela nos trouxe?

não é sobre o pó

que nos perguntará um dia

e nos reclamará

é em estar a fazer dos olhos

janelas

portões sem cadeado

e dos ouvidos, eletroímãs

relax...

não se espante

sou au-to-bi-o-grá-fi-co

vivo cada centímetro do que escrevo

a chave da vida

a chave da minha vida

de menino que nunca quer ser homem

pelo menos não o homem sério e imbecil

que querem que sejamos

mas sei

você deseja saber como é o homem

que escreve coisas assim, desse jeito

sei que quer me saber

não sei bem porque, mas sei

mas esse poder não está em mim:

está em você.

*

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 11/06/2007
Código do texto: T522140