Entre o sabor e o cheiro
Ouvi dizer deste mundo, coisas insolentes,
amores descuidados,
árvores que dão frutos sem sementes.
Tudo isso ouvi dizer, confesso, não me disseram inverdades.
Aonde moro? neste mesmo lugar que ouvi dizer, disse ao anjo que me perguntou,
onde meu olhar pratica atos com disfarces inteligentes,
mas as coisas acontecem. É onde moro e procuro as sementes dos frutos.
Celebro a vida em todo instante que vivo,
fugindo do destino e sendo apenas um ser de vidro
reprogramado para a vida,
louco por uma despedida, mas sem que me acompanhe de saudades.
Preciso ir. Não quero ir. Meu reino está neste mundo safrejador,
sou nele, seu melhor vagabundo, o que ainda planta árvores.
Sem árvore, sem frutos, sem sementes,
um grande sombreiro de amor.
Quem me achar que se deite sob a sombra de minha copa,
sinta que meu sabor é de manga
ainda que meu cheiro seja de açafrão queimado.