Da condenação!

Eu não posso morrer. É tão tarde...

meus cabelos grisalhos estão escondidos nas brumas da noite.

Há uma cruz no alto de minha fé, e uma dor serena em meus olhos resignados.

Sinto o bafo de alguma coisa esquisita que me quer morder.

A vida nos traz surpresas desinteressantes, e um homem vira monstro

e outro homem vira santo.

Do céu ao inferno são apenas doze passos negros de distância,

e toda quinta-feira chega antes da sexta e depois da quarta!

Um dia sonhei que era um deus e pus-me a escrever. Escrevi quase tudo

do que me faltou escrever, e preferi voltar a ser um diabo,

louco por literatura.

Já não posso morrer. Pintei meus cabelos de esperança

e sou toda a espera que existir.

Irei ao calvário dos justos presentear Barrabás com a crucificação de César.

Haja Pilatos em minhas lembranças, haja amor.

Quando eu morrer discutam minha morte e afastem a vida das indecisões

para que morram junto comigo.

Sou o menor dos que voam e o maior dos que rastejam

e se não sou humano, sou do húmus de um deus que não me quis nascido

E por isso me tornou poeta e anjo, deus e demônio

para amar e desamar e morrer vivo!