Evasão
De minha boca gélida e aflita
saem palavras latejantes e confusas
por meu corpo adormecido e lancinante
escorrem lamentos de saudades
fluem de mim palavras similares
ao canto de um pássaro triste
numa noite de névoa agonizante
onde apenas o desprezo comigo coexiste!
Canto embaraçado, desconexo, conflitante
palavras, sons confusos, gemidos, tanto faz
o que importa é expressar esse momento fugaz
agora acinzentado, outrora verdejante
demonstra a agonia de um ser tão incapaz!
Escorrem-me palavras doloridas, sobrepostas
de loucura ou desespero, o que importa?
Enchem cálices de puros sentimentos
corroídos e esquecidos pelo tempo
palavras, algumas inaudíveis
outras tantas intransponíveis
perdidas uma a uma, caídas de minha boca
tão desprezadas e abandonadas
que eu, poeta triste, reajo feito louca
soltando-as ao vento, deixando que se vão
e busquem um alento em qualquer vago coração...