Musa de cimento
O que difere a tua dor da minha é esta rua,
Imenso divisor da causa tua,
da casa minha
da causa nossa!
Parti de forma diferente, te deixando a boca
para que te diga, quase louca, as palavras minhas,
calcadas em respostas cruas que já nem escutas mais,
ó estátua fria.
Pobre do homem que te tiver amada na boca desta mesma rua,
mulher de sete espadas, musa entorpecida, dama crua,
que grita enquanto canta e mata, cabisbaixa, a canção da lua,
a mesma que me doa tantos versos.
Moramos no mesmo cabaré de livre estrada,
onde é proibido ser amado, ser amada,
só porque teu coração é feito de pétreo silêncio e contra meus versos,
e nossos pés, asfalto duro e quente dessa mesma estrada
onde moramos a maltratar a rua.