Meia-noite
Eu estive rodando por toda essa cidade e
talvez eu deva começar a escrever de verdade
pois a noite já chegou à sua metade
e sobe de relance o flash de uma luz da tempestade
que cai silenciosamente no vazio
de um escuro tão frio
quanto a própria morte
A lua não ilumina nada esta noite e
outro flash bate meus olhos como um açoite
por um segundo as pessoas são surreais
e o movimento na rua é silencioso demais
como em uma cidade deserta
de localização tão incerta
quanto a própria vida
Amanhã será um novo dia
mas a noite é sempre longa e fria
eu procuro por algo pra aliviar essa dor
mas esperar pelo Sol agora é desesperador
pois o escuro traz um tom duvidoso
de um silêncio tão perigoso
quanto um mórbido câncer
Pela madrugada eu vago sem sono
pelas ruas de uma cidade que esqueceu o seu dono
carregado pelo silêncio de uma multidão
empurrado pelo eco da escuridão
e as pessoas caminham sempre adiante
para uma luz de neon tão distante
quanto o fundo do abismo
Talvez eu deva começar a escrever de verdade
Pois a noite já chegou à sua metade
Vesti minha capa de poeta e procurei um papel em branco
Pedindo e implorando por aí como um mendigo manco
Um grande (nem tanto) amor que deixa um vazio
Uma tempestade num escuro meio frio
No vai e vem sem rumo dessa cidade
Será que minha vida já chegou à metade?