VOANDO COM LINDONÉIA

A onze mil metros,

maldizendo a solidão

e a dor que mata,

eis-me com Lindonéia,

aquela do avesso do espelho,

linda, feia, caetaneada,

na voz de Nara Leão.

Cá nas alturas

meu peito destroçado

se atropela na saudade atroz

de algo que nem mesmo sei dizer,

provavelmente irresgatável.

Tanto que o avesso do espelho

não consegue trazê-lo de volta.

Como não posso parar o tempo

ou voltar as suas engrenagens,

a vontade é de ficar aqui mesmo,

imerso em sonhos,

procurando Lindonéia

ora desaparecida

do outro lado da vida.

E ébrio, muito além das nuvens,

vou levitar em suas mãos

ao som de acordes ciberrnéticos.

O tempo não mais existe,

nem o avesso do espelho.

Somos astronautas à deriva,

perdidos no espaço sideral.