Rapto
RAPTO
há sempre um delírio que me rapta
quando atravesso meu estado de ausência,
entorpecida e sem promessas
o tempo descerra uma janela
para algo galopar endiabrado
desarrumando meu areiento universo.
vem e despe-me do deserto
que renega-me afogar.
há um pacto dele com o teu peregrinar
sobre chão e mar...
sobre mim também fazes andanças,
bem sabes que as horas
sempre te deixam entrar.
e vens e ficas despertando voragens
com um corpo suado sem dorso e crina
que te deixem domado.
leva-me sempre à deriva
d’um desejo de viajar no teu movimento
sem provocar motivos
que te façam parar ...
retornar, talvez um dia faria,
sem nunca pousar
vens e arrancas-me da raiz
pra levar-me a outro chão
num arrastão de vento indomado
em galope louco que me faz sentir
sem nunca se deixar enlaçar