UM AMOR NUVEM
Uma tímida melodia
ressoa moucamente à abertura
da noite.
Das árvores obscurecidas
pelas sombras, fantasmas dão sinais
de suas dores, derrubando folhas,
frutos e flores
sob os lamentos
silenciosos dos lobos, das ovelhas,
dos anjos e dos demônios que não mais
ousam se pronunciar.
E eu (à silente e soturna
madrugada) irei recuperar toda a floresta;
e, sob a cruciante angústia dos abantesmas,
abrirei a porta da qual somente
eu tenho a chave;
e superarei todos
os seus limites; e resgatarei; e amarei
(com fulgor de mil sóis) à última flor de inverno
de todos os modos, possíveis
e impossíveis.
E, ao derradeiro
esvanecer-se da luz, partiremos a outro
plano, deixando cheiros e vontades
reminiscentes
(a se perpetuarem
como sinal de vitória e de pureza
do grande amor
à nuvem)
pelas matas
onde se embrenham (juntamente
com toda a bicharada) velhos vermes
e soberbas mariposas
puristas,
em incontidas
ilusões e em libidinosos
e lamacentos
bacanais.
Péricles Alves de Oliveira