UM AMOR NUVEM

Uma tímida melodia
ressoa moucamente à abertura
da noite.

Das árvores obscurecidas
pelas sombras, fantasmas dão sinais
de suas dores, derrubando folhas,
frutos e flores

sob os lamentos
silenciosos dos lobos, das ovelhas,
dos anjos e dos demônios que não mais
ousam se pronunciar.

E eu (à silente e soturna
madrugada) irei recuperar toda a floresta;
e, sob a cruciante angústia dos abantesmas,
abrirei  a porta da qual somente
eu tenho a chave;

e superarei todos
os seus limites; e resgatarei; e amarei
(com fulgor de mil sóis) à última flor de inverno
de todos os modos, possíveis
e impossíveis.

E, ao derradeiro
esvanecer-se da luz, partiremos a outro
plano, deixando cheiros e vontades
reminiscentes

(a se perpetuarem
como sinal de vitória e de pureza
do grande amor
à nuvem)

pelas matas
onde se embrenham (juntamente
com toda a bicharada) velhos vermes
e soberbas mariposas
puristas,

em incontidas
ilusões e em libidinosos
e lamacentos
bacanais.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 15/11/2014
Reeditado em 27/02/2015
Código do texto: T5036550
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