Portas do Inconsciente
Toda a inocência adulta tem um corte.
Uma fresta! um lapso!
Uma fissura.
Um escândalo silenciado
Num estampido que ficou suspenso
Em algum quarto escuro
No vão do inconsciente que a tudo assiste:
Mudo… Impaciente.
Um gozo interrompido!
Um sorriso que choca-se…
Assim… Com uma má notícia estúpida!
Silencio eu.
Ouço passos lentos e sussurros roucos.
Mãos trêmulas e tão precisas.
Passos firmes e tão certos de mim!
E dirigiu-se, então, às escadarias empoeiradas…
Que levam ao vão do inconsciente e mudo.
O meu eu devastado e ele a perpassar sobre mim…
E sobre tudo o que havia sobre mim.
Mãos e bocas e peitos em haste!
Fechei eu os meus olhos…
E não quis mais nada ver.
Não com aquele olho humano que assiste a tudo.
E que sempre… Incansavelmente… Uma louca!
(põe tudo no seu devido lugar!)
Lugar que eu determino sempre!
Cotidiano caos!
Silencio eu…
Indelével ele… Suave e tenro.
Úmidas palavras…
Molhadas do mar meu e de tanto amor.
Senti-me eu tão flor atirada ao mar teu… Revolto!
E mãos e pele e o cheiro teu…
A romperem a porta do vão escuro de mim.
Orvalhada eu, caule meu…
E silenciamos nós.
… Chovia nas nossas bocas e pelo olhar
E nossa pele liquefeita – Um!
Ondas do mar teu sobre mim...
Eu… Orvalhada - Na maciez da boca tua minha.
Karla Mello
08 de Novembro de 2014