Versos de inverno
Canso dos dias ocos e dos desenganos
E a tua boca fria mastiga seixos
Engole a noite
Regurgita escárnios
Me põe gelada...
Pela margem do rio
Vou colhendo outonos
Mas sei que estás em mim.
Degusto os dias
As manhãs de orvalho
E o musgo brota do concreto
Com as mãos vazias
Tento lembrar, mas logo te esqueço
Melhor não sofrer...
Eu era só areia
Quando em ti me lancei
Achei que eras mar.
Há uma verdade
Na manhã que amanhece
Nunca saem de mim,
Desejo e vontade
Teus olhos
Saudade.
E o dia é cinza, as paredes, marfim;
Confins de inverno...inferno?
No abandono
Voa para o pontal solitária a gaivota
Vai sorvendo o dia
Engolindo a noite
E volta a ser ilha.
(reeditado)