ÚLTIMA LEITURA
delineio palavras que um dia transpiraram
percorrendo, incansáveis, tardes laranjas.
tentei por longos dias mantê-las vivas
e aquecidas sem que notassem a dormência
da (nossa) apatia.
em vão...
letras afinaram-se,
perderam a robustez,
desnutridas da emoção
falida de nós.
divorciados ficamos das frases
dos parágrafos que sempre
pediam nova junção
e,
trabalhavam para a continuidade
dos capítulos.
um romance selando a rosa
que não quisemos levar,
pra não termos que presenciar
a degeneração da cor
e o silêncio do perfume...
aberto agora o livro
mostra o flagelo de nossas crias
no deserto escrito por nós.
re.enterro as palavras suadas
com o calor das lembranças,
ficando apenas nos dedos
a ardência granulosa do sal.