O VELHO COIOTE DESPERTA
 
 
O marasmo da tarde
Prenunciava os dormentes
Seitas vigorosas
Do passado
Que acreditavam
Num sempre que ia
Mas agora se rende
Cumpre uma outra idade
Cobre de folhas secas
Sem nenhuma piedade
O pesaroso
Inaugura o novo
Que afasta este tempo
Trem que vinha
Desejar tempo
Tempo que vagava longe
Parecendo
O caminhante
Com cigarros acesos
Adentre varzedo
Das solidões
Fumaça nuvens
Deixadas pra trás
Chove nas auroras
Vingas até aqui
Posso viajar de novo
Mas terei que ir sozinho
Há um vagão
Que a ferrugem ocupa
Culpa do moderno
Será o moderno
Culpa nossa mesmo
nas vistas dos escombros
Retorcidos
Há um mendigo que dorme
Traquilo
Cama de assentos
ainda que assentos
mal sabe ler
pergunta as horas no poente
que digo é tarde vivente
estás  n’outra estação
vejo as flores acordadas
o frio desânimo que cai
sei da primavera
se indo
a um verão que
nunca tenho
me perdi no inverno
que sempre vem vindo
machuca minha alma
sedenta
igual a sua
e o que temos p’ra hoje
duas doses apenas
do que me trouxe
e a luz da lua crescente
minha morte ascende
seus olhos
mas o que mais se assusta
golpeia-me
com descaso
há um trago perverso
no verso encharcado
das escrituras
perdidas no trilho
hoje eu sei filho
o que veio fazer...