Intervalo
Piscina turva água nos céus
Mármore pegajoso do infinito
Cobiçado, maldito, decadente e delicioso
Interrompo os passos para contemplar
Sim, para este lugar desvio
Para o esquerdo caminho
Encontrar a cabeça dos troncos
Propositalmente ludibriado pelo ouro
Arranhar os dedos nas cascas
Para por elas ser envenenado
Torcer o olho esquerdo
Definhar
Delirar
Sorrir
... e continuar o percurso
Calçado para não arder
Pé ante pé
E assim não ser notado
Pelos ratos de costas
De quem tomarei os sabores
A múmia - casulo - caracol em chamas
Me aquece enquanto morre
Do espetáculo tomo nota
Sabores mais, muitos
Excesso indesejado
Celebração à inanição
Fracos felizes das orelhas sujas
Dentro da festa do beco escondido
Antecedido pelo gelo do
Mármore pegajoso do infinito
Do começo
Mas a um pulo
Um segundo a mais
Realizo: nem tudo interessa
A tristeza que traz o livro aberto
O gesso dos corpos, o escancaro dos olhos
Sério melancólico e dezenove aspirações
E a dor de quem nota sem querer
A mais pura demonstração
Da dominação das feras
Feras panteras quimeras na jaula
Dos olhos atentos ao que virá
Dos focos de medo
Que silenciados não existem
Mundo porco das aves pretas
O porco que se saboreia
Este mesmo infeliz que outro dia
se alimentou do podre
Ainda hoje volto
Nojo em dia, licença de prata
Este homízio já não me prende
Vou vestir o paletó
Acender a luz
Tomar o café
Calçar as botas sujas de cinza
Voltar a ser perseguido
Correr como nunca
Não evitar a agressão
Dançar chorando
Rasgar a pele para
fincar as raízes na terra mole
Endurecer o tronco...
observar os que voam
E voltar a ser igual às outras árvores.