Minimismos

Pensando ser uma formiga

veio uma pulga e me pisou

Saí agarrado no chiclete de seu sapato

quando a bactéria me acertou

Tossi por quatro dias

quando senti que faltava dor

A dor que preenchesse um corpo

uma matéria que sentisse dor

Em meu estado formiga

O germe me revelou

Que eu no microscópio

Na lâmina que me abrigou

Lutava pra ser um vivo

Que conseguisse sentir dor

Um vivo com o corpo arrastando

Pendendo num bangalô

Pendurado numa teia

Daquela que me caçou

Enrolado num casulo

Tremia feito parafuso

de caixa de som de carro

Se ao menos

Fosse eu de barro

me veria todo sujo

E aí eu saberia

Que aquelas altas horas

Não tinha nem mais juízo

De corpo é que eu preciso

Pra poder ser insolente

E no pé da pulga infame

largasse eu os meus dentes