Sem nome, sem ente

Tamanho não é documento

RG não me diz

A boca se fecha e prende a mosca

tem gente que tem a alma oca

Tem gente na ponta do nariz

Respiro pra ver se me identifico

Sibilo na tosse

o ar do meu pulmão

Reservo um gole de cachaça pra loucura

Penduro-me na grade do meu portão

Meu porta-retratos não me aguenta

Tem gente cuja imagem

Nos lembra a vida no céu

Alguns se escondem

dançando na chuva

E outros revelam-se

embaixo de véus

Tem carne seca pronta pra os dentes

Tem gente que não se escova

nem uso fio

Juntando-se os dois

dá um meio termo

Fazendo da água um desvario

Desviro os ovos

Pra ver se chocam

Coloco o dedo na eletricidade

Imponho-me uma tristeza de saudade

Quem disse que assim

que se tem liberdade?

E solto meus medos

Pra que se percam

A parca nuvem que me encabeça

A minha voz anda tão rouca

E minha aparência esquelética

Rastejo

Procurando brilho na terra

Até se for sorriso de formiga

Não fiz da morte minha amiga

Corro léguas desse embaraço

Se der duas da manhã eu traço

Meus verbos infames e um iogurte

Esqueço que os vermes

Vem roer meus dentes

E versejo na cama com a luz apagada

Não me apego a víscera congelada

Que me servem em self-service

O que não quero pra mim

Não faço pra os outros

O que detesta ou amedronta

A culpa é de quem elegeu o prefeito

Perfeito não passa de uma sombra

Que a gente embala colada ao peito

Não tem fim, nem jeito, nem proveito

Se o vento derrubou o oitizeiro

Se for pra condenar um mundo inteiro

Prefiro saltar pra longe e ir atrás

Daquilo que dizem ser destino

Enquanto isso esvazio-me

Pra conseguir mais

Um rastro de frase

Que traga um tigre em si

Devorando o que a esfinge cuspiu

Se pra bom entendedor

meia palavra basta

Não vá dizer que não viu

Ou que seu vizinho não ouviu