Pesporrência
Perdoem-me a arrogância dos tolos,
Vestidos de ignominiosos sacrilégios,
Que me habitam a mente letárgica,
Defuntas personagens que imploram,
Sabedoria indecifrável desonrada.
Acolham-me as manias fastidiosas,
De tão grandes feitos inusitados,
Que me percorrem o não ser,
Perdidos no sonho mítico irreal,
Na noite longa em que desapareci.
Ignorem-me as longas preces sem fim,
De tão banais monólogos se tratarem,
Que tal como ladainhas decrepitas,
Inundam de dó insofismável o tempo,
Precioso néctar das vidas falhadas.
Perdoem-me os olhares castrantes,
Perniciosos ases de espadas indolentes,
Afogados na indiferença jactante,
Que me corrompe o pensar latente,
Ferido de inoportunidade circunspecta.
Tolerem-me a filigrana dos meus tormentos,
Tão inexpeditos de ternura eloquente,
Que no meu trilhar cada vez mais pesado,
Me dão tanto mórbido desalento prostrado,
Que convosco insisto em tentar partilhar.
Adivinhem-me as entranhas do infortúnio,
As conspurcadas badaladas dos sinos inertes,
Que anunciam o apocalipse que me infere,
Tão proficuamente desejado na saudade,
Obstinadamente arruinada pela raiz do medo.
O delírio no meu telúrico acordar sabático,
Em que eu julguei um dia vos poder encerrar,
Em vão.
Lisboa, 25-8-2013