Pesporrência

Perdoem-me a arrogância dos tolos,

Vestidos de ignominiosos sacrilégios,

Que me habitam a mente letárgica,

Defuntas personagens que imploram,

Sabedoria indecifrável desonrada.

Acolham-me as manias fastidiosas,

De tão grandes feitos inusitados,

Que me percorrem o não ser,

Perdidos no sonho mítico irreal,

Na noite longa em que desapareci.

Ignorem-me as longas preces sem fim,

De tão banais monólogos se tratarem,

Que tal como ladainhas decrepitas,

Inundam de dó insofismável o tempo,

Precioso néctar das vidas falhadas.

Perdoem-me os olhares castrantes,

Perniciosos ases de espadas indolentes,

Afogados na indiferença jactante,

Que me corrompe o pensar latente,

Ferido de inoportunidade circunspecta.

Tolerem-me a filigrana dos meus tormentos,

Tão inexpeditos de ternura eloquente,

Que no meu trilhar cada vez mais pesado,

Me dão tanto mórbido desalento prostrado,

Que convosco insisto em tentar partilhar.

Adivinhem-me as entranhas do infortúnio,

As conspurcadas badaladas dos sinos inertes,

Que anunciam o apocalipse que me infere,

Tão proficuamente desejado na saudade,

Obstinadamente arruinada pela raiz do medo.

O delírio no meu telúrico acordar sabático,

Em que eu julguei um dia vos poder encerrar,

Em vão.

Lisboa, 25-8-2013

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 21/07/2014
Reeditado em 21/07/2014
Código do texto: T4890679
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