Violinos de Chuva
perfumou-se a noite
de lavanda,
p'ra fazer cair
por terra os mistérios.
tons de lilás e prata
se acomodaram pelos cantos,
quando a lua fez descer dos ombros,
finas alças de organza.
não se sabe por que,
como se fossem cortinas,
diamantes começaram a cair,
quando o céu reuniu nuvens para
recitais de violinos
naquele noturno,
tudo queria se despir.
ergueu-se e fez que receios
e dúvidas descessem
pela garganta
- pediu ajuda à taça de vinho.
afagou o cansaço das viagens
e retirou, lentamente,
todas as curvas fechadas
que desenhou na estrada.
quase com fúria, arrancou e quebrou
as placas com tintas descascadas;
nunca revelaram as verdadeiras direções.
deslizou as mãos pelos precipícios
que serpenteavam as margens e
os fez cair, sem pudor,
expondo as reais
profundidades.
desfez os laços das aventuras
e deixou-as cair, também,
uma a uma;
algumas tinham cores de troféus,
outras tinham rasgos de espinhos.
poxa,
também queria se despir das
flores, pássaros e borboletas;
pequenas e doces imagens que,
tão pacientes, enfeitaram a estrada.
fez isso com muito cuidado,
pois haviam sido presentes.
ainda haviam os rios por
onde a estrada mergulhou;
estes foram rasgados,
pois exigia pressa,
aquele momento.
- foz e arco-íris se espalharam pelo chão.
o som de um suave e
contido sorriso
se acomodou no ouvido.
também sorriu;
aquilo era sinal
de boa aceitação.
arrumou com cuidado,
diante dos pés,
as oferendas de honestidade
e, dando um passo a frente
com olhar transparente...
nua dos confortos e perigos,
permitiu que os lábios
bailassem um pedido:
- casa comigo?