O Que vive Em Mim
Tenho em mim a tristeza do choro duma criança triste,
Tenho em mim a solidão dos ostracizados abandonados,
Tenho em mim o meu grito mudo da revolta esquecida,
Tenho em mim o meu sentido da vida vilipendiado,
Tenho em mim o peso ocioso da vossa ignominia,
Tenho em mim o vírus corrosivo da dor latente,
Tenho em mim o entediante síndrome do viver,
Tenho em mim as tempestades sôfregas a trovejar,
Tenho em mim as saudades das falsas memórias,
Tenho em mim o achamento do falso Santo Gral,
Tenho em mim a passar correntes de rios bravos,
Tenho em mim a tua imagem fresca de alva luz,
Tenho em mim os sonhos sentidos nunca vividos,
Tenho em mim o deserto da seca alma exaurida,
Tenho em mim o doce caminho para o abismo,
Tenho em mim o meu próprio destino indefinido,
Tenho em mim os teus perfumados ramos de flores,
Tenho em mim todos os maus anos exorcizados,
Tenho em mim uma bola de sabão passageira,
Que nasceu ofuscada pelas trevas reinantes.
Lisboa, 15-8-2013