Deusa de fogo
Pelos verdes bastidores dos prados,
Ao olhar desatento dos que trovam,
O olhar da musa escorre sedento
Sobre os dorsos febris dos garanhões;
Lânguido, calmo e sem alarde.
Ela pinta os lábios sob os olhares de fogo
Que cirandam pelas cercanias;
As planícies estão repletas desses seres
Reluzentes em seus alazões de lata.
O poeta vê tudo à luz do seu desencanto;
Porém, sem pranto; é só dor de poesia;
Enquanto a alma pede amparo.
Não raramente as deusas se dissipam
Feito água pelos vãos das rochas.
São assim; crianças sonhadoras e singelas...
Mas há sempre uma flor em seu olhar
Uma rosa que cresce no deserto do peito.
Os olhos do trovador estão à míngua.
Não quer mais música nem rimas,
Apenas o sabor amargo da língua
No doce beijo que ainda resta.
Em quanto tempo o vulto da doce musa
Apagar-se-á para sempre do seu pensamento?
Quantas dores haverão de se arrastar
Pelos nervos plácidos de quem verseja?
Quando será que um cavalo preto
Um Pégaso negro, pegará o azul infinito
Levando, à galope, todas as coisas sonhadas?
Carlinhos Matogrosso