Recordações Passadas
Está tudo muito bem retratado,
Na minha ilusão desavinda,
Tudo o que já não existe,
E tudo o que jamais vingará.
Aquela imagem a preto e branco,
Abrangente na paixão sentida,
Extensa na sua exiguidade.
O desafogo das vistas largas,
Os montes ao fundo relevados,
As viagens percorridas acabadas.
As identidades relatadas soçobradas,
Desocupando o vazio dos espaços,
Tormentosas almas de antigamente,
Postumamente na dúvida defraudadas.
Almas suspensas numa fotografia,
Num último laivo risível de usufruto,
A caminho do eterno adormecimento,
No desconhecimento do atroz vindouro.
A existência para sempre vilipendiada,
Decepada daqueles corpos dormentes.
Em recordações toscas dilatórias,
Esbatidas naquele exacto momento.
Irrepetível no espaço-tempo,
Agora adulterado para sempre,
Na imensidão do intangível,
Esmorecimento do passado,
Que vinga na total ignorância,
Na gratidão trespassante,
Que comigo bem guardo.
Lx,12-6-2013