Recordações Passadas

Está tudo muito bem retratado,

Na minha ilusão desavinda,

Tudo o que já não existe,

E tudo o que jamais vingará.

Aquela imagem a preto e branco,

Abrangente na paixão sentida,

Extensa na sua exiguidade.

O desafogo das vistas largas,

Os montes ao fundo relevados,

As viagens percorridas acabadas.

As identidades relatadas soçobradas,

Desocupando o vazio dos espaços,

Tormentosas almas de antigamente,

Postumamente na dúvida defraudadas.

Almas suspensas numa fotografia,

Num último laivo risível de usufruto,

A caminho do eterno adormecimento,

No desconhecimento do atroz vindouro.

A existência para sempre vilipendiada,

Decepada daqueles corpos dormentes.

Em recordações toscas dilatórias,

Esbatidas naquele exacto momento.

Irrepetível no espaço-tempo,

Agora adulterado para sempre,

Na imensidão do intangível,

Esmorecimento do passado,

Que vinga na total ignorância,

Na gratidão trespassante,

Que comigo bem guardo.

Lx,12-6-2013

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 09/07/2014
Código do texto: T4876095
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