Fogo Morto

Sua voz chega a mim

feito chagas frente

ao inimigo eterno;

e de longe apercebe-se

como o mar

a cavalgar pedras imóveis telúricas.

Sua respiração

coloniza minha pele,

a mantém refém

por dias

semanas e anos.

Abstenho-me ao seu poder

metódico e capcioso.

Permito teu beijo gélido

(mas sensível).

Permito-me.

Distante, em um barco,

encontra-se o seu corpo suspenso

por cordas invisíveis.

E tu

me gritas,

mas não me chamas.

Permaneço inerte

pois a ouvi.

Penso: O ouvi.

Mas quando torno

o meu olhar,

não há nada

senão o azul viscoso e sombrio

do céu já caído

sobre ti,

e nossas estórias extraviadas.

Sinto-me vazio

no vazio dos corpos,

mutilados, se tocando.

Tu, abstruso

sob o céu,

escolhes subir.

Meu vazio

me chama a descer.

Ao infinito sulfúrico,

à costa escarpada em fogo.

Fogo eterno.

Fogo vivo.

Fogo morto...

Há muitas eras.

Jardel Rodrigues Ferreira
Enviado por Jardel Rodrigues Ferreira em 29/06/2014
Reeditado em 25/04/2018
Código do texto: T4862486
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