Pedras Mudas
Das trilhas do meu caminho, restam as pedras em que pisei.
Por onde pisei só as pedras o sabem.
Como sabem como foi o meu pisar.
E se o sabem, foi por lhas permitir.
Para no futuro – hoje – serem as testemunhas do meu passado.
Testemunhas mudas.
Mudas pedras. Mudas, pedras, e vão para longe...
E percam o contato com as demais, do meu caminho.
E, se espalhem, sem espalhar o que me sabem.
E sejam muitas e únicas, afastadas, mudas.
Para que não mudem o que me sabem!
E, como mudas, se aquietem e não mudem mais...
Não mudem o caminho da nova trilha.
Da trilha que ainda hei de pisar...
E como o mundo muda, muda o meu pisar...
Mudam-se os meus caminhos como mudam as minhas trilhas.
E pedras outras se submetem ao meu pisar.
Do mesmo modo, mudas. Do mesmo modo mudas!
Até que eu me vá...
E possa, do mesmo modo que vós, pedras mudas...
Submeter-me de forma muda ao peso de vós outras.
E que possam cobrir a minha carcaça em meu túmulo.
E eu serei sua testemunha muda, daquilo que ocultam.
O meu próprio eu a quem haverão de pisar com força...
Até que eu me vá pelo caminho último em que não há pedras.
Onde minha consciência será o meu guia.
Minha testemunha de defesa e acusação.
Meu juiz e meu advogado.
Eu mesmo e nada mais...
O nada meu!
O nada meu que me acusa!
O nada meu que me alivia!
O tudo que me fere e o tudo que me cura!
E o nada e o tudo serão pesados.
E as medidas deverão ser comedidas!
E, que o tudo de mim que torne pênsil a balança, seja o tudo bom, o tudo bem!
Para que eu torne a um novo eu...
A, com os meus pés, poder polir novas pedras...
De um novo caminho, de uma nova era e de uma nova vida...
E que tais pedras sejam-me novas testemunhas mudas.
Para que o meu novo eu, com meu novo nada e meu novo tudo sejam julgados!
E, que o tudo de mim que torne pênsil a balança, seja o tudo bom, o tudo bem!