Poesia não é pra mim
Proíbe-se falar do cru...
Há que ser ter a fineza,
e pó de pirlimpimpim...
Ai de você, ai de mim,
cuja lente enfoca a dor...
Para os doutos, um horror...
Poesia em demagogia,
que tenta criar um mundo,
além de Marte, em aparte
para os felizes da vida...
Cigarras em algazarras,
tentando abafar os ais,
dos mortais, pobres, mortais...
Sequer vão aos funerais...
Com a dor, nada de papo...
Gostam de tirar retratos,
estampá-los em jornais...
Poesia não é pra mim,
que nasci lá na barroca...
Nem educação eu tive...
Morri tentando achar vida...
Beleza, nem mesmo a lua,
se fez bela em noite escura...
Pela fresta, sem frescura,
luzia nas faces mortas;
De minha, mãe, de meu pai...
Dos meus irmãos esqueléticos...
Do meu barraco vazio...
Da minha parca esperança...
Sorte tive, que "Na Barca
de Caronte", atravessei,
a pé enxuto, esse inferno...
Achei guarida dos deuses,
achei ninho em seus caprichos...
Nicho que me encerra agora,
permite essa coqueluche,
brincar de fazer assinte...
Ah, mas nunca deixo a espora...
Faca afiada em dois gumes,
nem as lembranças de outrora...
Veneno de cada sílaba,
dê tônica, encorpe esse asco,
que tenho da antiga corja...
De preconceito acerbado,
se achando melhor, enfim,
que quem traz nu, o seu rim...
Escudo não haverá,
que sei segredo dos deuses
e posso fazer justiça...
Pinça não dá pra limpar,
de cada, a forma de verme...
Jogo logo a pá de cal,
que não quero amor inerme...