UM DESPERTAR NOSTÁLGICO
Do fundo de minha alma,
onde eu não estive jamais,
dois olhos tristes me olharam,
ao ouvirem os meus ais,
porquanto não sendo ouvidos
detectaram sons astrais.
Chagas se abriram no peito
de quem dormia sonhando
e, com lágrimas vertendo,
talvez dos olhos me olhando,
quis saber se estava vivo,
mas se vivia, até quando?
Ao ver seus prantos caindo,
porém não querendo vê-los,
olhei ao longe entre os montes,
mas lá estavam seus cabelos,
quase sem cor no horizonte
e, então, tive pesadelos.
Às vezes é necessário
sentir um pouco de dor
para de um sono acordar
no desabrochar da flor
e sentir o seu perfume,
enquanto durar o olor.
Já na penumbra da noite,
que se sumia ante o sol,
iluminoso e quente,
tal como imenso farol,
sonhava que alguém me via
ao findar do arrebol.
Contemplando os belos campos
e ao longe verde floresta,
titubiante eu afasto
cabelos de sobre a testa,
mas ao revê-la em sonho,
deslumbra-me o mundo em festa.
No calor que me aquece,
eu penso logo no lago,
alguém num abraço me beija
e no êxtase me apago,
mas com o toque das mãos
um belo corpo eu afago.
Nado sozinho e me afogo,
grito e não me vem socorro,
quem me amou foi embora,
chorando atrás dela eu corro
e, nessa noite sem aurora,
ao me despertar eu morro.