MEU ANJO
Meu anjo perdeu as asas,
E há muito não me protege.
Dizem que tornou-se herege
E canta canções esquisitas,
E dança danças estranhas
Sobre o telhado da minha casa.
Meu anjo agora é fumante
E sopra nuvens de fumaça
Pelo céu de minha cidade.
Ele assa batatas doces
Na fogueira, sob as brasas,
Temperando todas elas
Com o sal das minhas lágrimas.
Enlouqueceu, o meu anjo,
-Pobre ex-criatura alada!
Que já não mais abençoa
E nem é abençoada!
Com sua fé, faz um café
Que toma, de madrugada
Para disfarçar a insônia
Da sua alma quebrada...
Por ele, nenhuma hosana
Ou missa será rezada,
Eu o deito em minha cama
E sopro-lhe a pele rachada
Em troca, não peço nada...
E ele me diz que sou tão boa,
Com os olhos, me agradece
(Da boca, cai uma prece
Com a qual me amaldiçoa...)
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Meu anjo perdeu o tino
e anda maldizendo a si próprio
meu anjo que foi menino
perdeu a ingenuidade.
Saudades que sinto do anjo
que não bebia cachaça
e muito menos cerveja
Saudades que sinto do anjo
que não me via
velava.
O sono de todos os dias
momentos de todas as horas
Meu anjo adormecia
enquanto eu acordava.