AZUL
Rebelaram-se todas as palavras
Como água cristalina a escorrer entre caminhos
Margeando noites e luares,
Margeando olhares
Calaram-se todas as palavras,
O som era puro murmurinho
Preces balbuciadas em manhãs orvalhadas,
Contornando vales e mares
Contornando males
Murmúrio de águas amargas
E todos os poemas foram abortados
Do ventre fértil outrora
Estéril de versos se fez
Correndo em vielas soturnas
À espreita, fetos de versos mal acabados
Rabiscos de sonho pueril
esquivam-se dos açoites da noite
Sua voz estrangulada,
Cantava hinos de louvor
Sua mão ensanguentada
Tocava o céu
Palato de tremores
Abóbada de sabores
Embargos....
Calaram-se todas as palavras.