Coisas de adultos
Hoje, se eu não fosse adulto, pediria colo!
Hoje, se eu não fosse adulto,
desejaria o aconchego;
ter a inocência no coração.
Hoje, se eu não fosse adulto
gostaria de despir terno e gravata,
sentir a grama nos pés descalços,
encharcar-me de sol no rosto,
correr loucamente com meu cachorro.
Depois, cansado, dividir o sorvete com ele.
Hoje se eu não fosse adulto,
levaria a menina para passear,
aquela que ficou nos sonhos
e que não envelheceu
por mais que amarele o pensamento,
nos cause fetiches aos olhos
transforme delicadas e amorosas mãos
em páginas de aceno.
Hoje, se eu não fosse adulto,
voltaria a pescar nos riachos da sabedoria
junto aos meus amigos
aqueles que, hoje, ficaram pra trás.
Hoje, se os amigos não fossem adultos
filosofaríamos em algum botequim
com todo o ativismo poético
que os apaixonados fazem verdadeiros.
Decepções chegam quando amadurecemos
e, despidos,
vemos a vera utopia do possível.
Hoje, se eu não fora adulto,
contrataria inquisidores.
Eles, justiceiros, baniriam o mal
do auto-envenenamento da sociedade.
Faria um banquete sem empalar pensamentos,
Embriagaria a sanidade tornando possível a burla.
E daria boas-vindas aos adultos que somos.