Coisas de adultos

Hoje, se eu não fosse adulto, pediria colo!

Hoje, se eu não fosse adulto,

desejaria o aconchego;

ter a inocência no coração.

Hoje, se eu não fosse adulto

gostaria de despir terno e gravata,

sentir a grama nos pés descalços,

encharcar-me de sol no rosto,

correr loucamente com meu cachorro.

Depois, cansado, dividir o sorvete com ele.

Hoje se eu não fosse adulto,

levaria a menina para passear,

aquela que ficou nos sonhos

e que não envelheceu

por mais que amarele o pensamento,

nos cause fetiches aos olhos

transforme delicadas e amorosas mãos

em páginas de aceno.

Hoje, se eu não fosse adulto,

voltaria a pescar nos riachos da sabedoria

junto aos meus amigos

aqueles que, hoje, ficaram pra trás.

Hoje, se os amigos não fossem adultos

filosofaríamos em algum botequim

com todo o ativismo poético

que os apaixonados fazem verdadeiros.

Decepções chegam quando amadurecemos

e, despidos,

vemos a vera utopia do possível.

Hoje, se eu não fora adulto,

contrataria inquisidores.

Eles, justiceiros, baniriam o mal

do auto-envenenamento da sociedade.

Faria um banquete sem empalar pensamentos,

Embriagaria a sanidade tornando possível a burla.

E daria boas-vindas aos adultos que somos.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 01/09/2005
Reeditado em 23/01/2011
Código do texto: T46683