Sonho compartido
Ah! Devo lhe contar o que sonhei
Nessa noite tão longa, Anjo brilhante.
Sonhei que me casava com um rei,
Na praia mais longínqua e, em um mirante.
Em minha volta havia a multidão
De pessoas de pequena estatura,
Para vê-las, tinha de olhar o chão,
De tão pequenas que eram essas figuras.
Dez polegadas tinham cada um.
Havias de ver, que momento estranho,
De um metro, não, não havia nenhum,
Somente o rei chegava ao meu tamanho.
Todos olhavam fixo para mim,
Pois prestes estava ao comprometimento.
Assustei-me, quando o rei disse “sim”,
Pois, de falar meu “sim” era o momento.
Foi naquele instante que percebi
No incrível erro que eu estava metida.
Por isso, sem hesitar, eu corri
Por entre a praia tão desconhecida.
Vendo-me fugir, o rei furibundo ,
Com o sangue já fervendo pelas veias,
Mandou atrás de mim, escravos, mundo,
Até que me encontrassem nas areias.
Com espadas, arcos, flechas pela mão
Saíram a procurar-me sem demora,
Tentaram me alcançar, mas foi em vão,
Pois eu já estava longe nessa hora.
Cheguei, então, no fim da praia bela
E esse foi, por certo, um grande bem,
Pois vi, ao longe, um grande barco a vela,
E dentro desse barco havia alguém.
Aproximei-me, mas não compreendi
O motivo de aquilo dar-me gosto.
Se nem a face da pessoa eu vi,
Pois havia uma máscara em seu rosto.
Mas vi algo naquele ser distinto
Que somente em outro ser eu vi igual
Os olhos me levavam a um labirinto
De graças, como a luz celestial.
Voavam pelo céu as andorinhas
Mas eu, compenetrada em seu olhar
Não vi tomar, aos poucos, as mãos minhas
E com voz bela e calma me falar:
“És tu a fugitiva do palácio,
“Oh, bela dama de brilhante olhar?
“Por que não casas com o Rei Inácio?
“Ele é um bom partido para se casar”.
Então eu respondi, mais que depressa,
Da indagação à resposta merecida,
Pois quando falo, não há quem me impeça
De falar com voz alta e mui subida:
“Vou falar-te como quem canta um mote
“E escute, por favor, o meu reclame:
“Não me importa quem tenha muitos dotes,
“Jamais me casarei com quem não ame.
“Talvez tu sejas dele um bom vassalo
“Que seja o Rei Inácio bom partido,
“Mas isso é suficiente para amá-lo?
“P’ra tê-lo junto a mim como marido?
“Ademais eu não posso estar casada
“E digo-te o porquê sinceramente,
“Pois sou completamente apaixonada
“Por alguém que amarei eternamente.
“É o anjo mais puro, de luz mais clara,
“De cabelos mais brilhantes que o ouro.
“Vendo o anjo qualquer ferida sara
“Não importando o problema vindouro.
“Ah! Quando fala, o meu anjo, eu me calo
“Pois que a sua voz parece sinfonia!
“Ah! Quando abraço o meu anjo, Vassalo
“Até o peito em chamas se arrepia!
“Meu braço desfalece, o corpo treme
“Se a sua frente eu fico só um instante.
“Quando vejo o meu anjo perco o leme
“Pulsa bem mais que forte o peito amante.
“Tudo isso sinto, mas veja agora
“Tudo isso é sonho, um lindo modelo
“Terei de acordar em alguma hora
“E o grande amor? Não poderei vivê-lo.
“Ah! Mas só de estar perto de quem amo
“Faz-me sentir, ao menos, corajosa
“De enfrentar o resto desses meus anos
“Amando de maneira silenciosa”.
Mas eis que ao me ouvir, o ser disposto
Do olhar que, deslumbrante, me tocou
Ergueu os braços, tateando o rosto
E a face disfarçada destapou.
Eras tu meu anjo! Sim, eras tu.
Que surpresa, que quem tem, não espera.
Não se tratava de um sonho cru,
Tampouco os traços doces da quimera.
Que felicidade ver teu olhar
Quando a máscara do rosto tiraste,
Melhor ainda foi te ouvir falar
As palavras tão doces que falaste:
“..................................................
“..................................................
“..................................................
“..................................................”
Espero que me digas pessoalmente...
...Novamente, as palavras lindas que sonhei...
...Pois, naquele instante, anjo dourado...
...Despertei.