FINITO

Ajoelho-me sobre a lápide de outros

E toco o mármore liso de uma certeza

Que não era minha e nem daqueles poucos

Que antes perto de mim, seguiram suas correntezas.

Vi eles passarem como se dessem adeus ao momento

Engano-me um minuto na grama perfurante

Enfim só, repleto da fé de antes,

Não me atormenta mais os pensamentos...

Uma cavidade na terra me emana em frieza

Observo calmamente os lados e fecho os olhos

Espreita-me na esquina aquele ser sereno

Que se mistura as flores lavadas de tristeza.

Contemplo nos cacos do espelho

Aquele que antes alisava o cabelo em sincronia

Com os pulsos que revigorava a vida.

Naquela alma esfomeada e fria.

Não fugimos de ser como antes

A curvatura da morte nos ensina

Regada nos cantos escuros da sina

No purgatório elaborado por Dante.

O cheiro podre agora em mim arde

Sou humano resumido no que pensei.

Acho nas mortalhas aquilo que busquei

A reposta para ilusão da eternidade.

Quem dorme sob essa lapide?

Talvez a minha ilusão

Minha fome de eternidade

Meu vazio e meu perdão.

Esses sentimentos me preenchem por completo

E deito-me no tapete verde que se abre.

E aquele que me via, estava tão perto.

Percebi que este buraco é onde todos cabem.

Tinha a certeza de quem cuidava

A lápide que não falava e não sentia

Meus olhos puseram-se na foto esbranquiçada

Percebi que eu mesmo é que ali dormia.

Silvestre Cantalice Filho

artenix.com

Do livro, Poética de escritores

Silvestre Cantalice
Enviado por Silvestre Cantalice em 30/12/2013
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