MORTO PELO TEMPO E PELA SENCIENTE RAZÃO AMADURECIDA
Que estranha
cena
de eu de mim
nesse nublo
do dia,
em que chora
uma fina
e insistente
chuva
fria!
Como são belas
essas nuvens
escuras,
pálidas,
fugidias,
a esconderem,
por entre
suas sombras,
os sóis que,
outrora,
alumiei com
virgem ousadia!
Por que a rua
onde piso
está assim
tão diferente,
com suas flores
e seus mistérios
mais vivos,
mais sedutores,
mais sublimes?
Que intenso
orgasmo
é esse
que estou tendo
com o vento
a bailar,
sinuoso e íntimo,
em minha pele
cansada,
em minha mente
bastardia;
e a me tratar
como o finado
menino que,
tão longiquamente,
lhe montava
o dorso esplêndido
com grande
maestria?
Por que essa vida
tão vida
veio me encher
assim,
tão de repente,
fazendo-me
encantar
desse mágico
vazio
ao fim do dia;
senão para
me lembrar
da angústia
e da dor
daquela cândida
alma havida,
em minha infância
tão longe
perdida?
Péricles Alves de Oliveira
A imagem retrata uma magnífica tela pintada por Cândido Portinari